Sobre zumbinismo digital…
“Zumbis não agem como predadores (com intencionalidade), e sim como um vírus…”. Max Brooks, autor de Guerra Mundial Z.
Se você anda de ônibus, já deve ter visto pessoas espremidas entre si e rolando, em menos de dois segundos, a tela do celular entre um vídeo e outro (talvez você mesmo, numa pausa para descansar os olhos). Em nosso mundo de dispositivos conectados e pessoas desconectadas, existe até uma palavra para isso: “brain rot, do inglês, cérebro podre”.
Nos primórdios da internet, acreditávamos que entraríamos na era da informação, mas estamos aqui, afogados em desinformações, graças à disfarçada manipulação algorítmica, aliada à ascensão do mito da Inteligência Artificial.
Mito porque IA não passa de tentativa de previsão do futuro a partir da estatística aplicada a dados do passado. Nunca houve inteligência, até onde sabemos, uma propriedade exclusiva de organismos biológicos (Miguel Nicolelis).
Um dos efeitos negativos dessa manipulação, causada pelas “redes sociais” (na realidade, empresas de dados), é a renúncia voluntária da consciência, um dos objetivos do capitalismo; tornar a pessoa uma peça da máquina que a esmaga, tão alienada quanto a que ela opera (ou por ela é operada).
A IA faz quase tudo o que uma pessoa faz, e muito mais rápido, exceto que às vezes sem nenhuma qualidade e sempre, sempre sem criatividade, mas quem se importa? Pessoas criativas só são reconhecidas se essa qualidade for usada para negócios.
O Fediverso, conjunto de redes sociais descentralizadas e organizadas por pessoas e para pessoas, me parece, era um dos lugares possíveis de interação harmoniosa com pessoas criativas. Pelo menos, até antes da chegada de levas de zumbis provenientes das redes mediadas por algoritmos.
Pessoas que reconhecem nunca terem desenhado, pintado ou escrito um parágrafo decente sequer, comentam sobre obras artísticas diversas (livros, filmes, séries, pinturas…) como se fossem críticos renomados na área.
Pessoas que acreditam que política e futebol não se discutem, independente da realidade do preço dos alimentos ser resultado direto da ação ou omissão do ato de votar, comentam sobre a política do leste europeu como verdadeiros estrategistas geopolíticos.
Pessoas que confundem crime de racismo com liberdade de expressão e conversam como se estivessem num debate político polarizado… pessoas comuns, que tratam todas as outras como inimigas, sempre de forma rude.
Talvez visando o que obtinham antes, nas redes algorítmicas: visualizações e curtidas, a desejada viralização. Será que o zumbinismo digital viralizou no Fediverso? Não sei, não estou mais lá…